quinta-feira, 21 de maio de 2009

Para pensar

"AMOR TEMPERADO E PENA CLANDESTINA."

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A-CORDA - AINDA UM PROCESSO



Um dia, talvez, fique totalmente contente, mas por enquanto sempre tenho um desejo insatisfeito, alguma coisa me falta e desejaria descobrir sua substancia.
Enquanto isso, antes de expor mais nada, gostaria agradecer o caloroso comentário da Karla Izidro, é tão gostosso (para falar em bom tom brasileiro) saber que alguém perdeu seu tempo, vem te ver e ainda, depois, te devolve seu olhar, obrigado querida.
Então gostaria de colocar que ainda resta muitas pisadas para estes estrangeiros. Olhando para trás vemos que como grupo crescemos muito, e dá orgulho pensar que além das adversidades conseguimos levar adiante um trabalho contínuo, e que ainda persevera a vontade de seguir tocando o barco, o trem, o carro ou simplesmente a carroça. ... Porém há muito trabalho pela frente e antes de tudo lembro, a mim mesmo, que  A-CORDA ainda é UMA MOSTRA DE UM PROCESSO , que já tem cara de espetáculo sim, já mostra um resultado e define um caminho, más como nos alerta a Karla há lacunas ainda a ser preenchidas, seja na narrativa ou na execução do trabalho.  Vou colar o poeta amigo que nos deixou escrito há tempos, “Caminante no hay caminos, se hace camino al andar”. Estamos cientes o pelo menos deveríamos estar que ainda temos muito por andar para dá-lo como finalizado. 
E devo confessar queridos colegas, que então, provavelmente  não fique totalmente contente, haverá ainda algum desejo insatisfeito, alguma coisa que teria gostado de experimentar, mais que ficou para outra.

 Talvez, um dia...   Enquanto isso ... Trabalho... e trabalho ....

Karla disse...



A Corda é um espetáculo que não é para se gostar ou não gostar, vai além do gosto.A montagem, o cenário e seus símbolos nos dizem muito, achei tudo muito bonito e impactante, mesmo sentados como platéia balançamos nas cordas... Em termos sonoros houve um grande crescimento de todos, a voz de alguns me surpreendeu porque ousaram mais e descobriram novas ressonâncias como a Fabiana, a Carol e o Hélio. Adoro a trilha feita dentro do espetáculo e foi muito bem executada. O que senti falta, como tudo é muito simbólico, foi de uma dramartugia mais amarrada com o que se via. Os textos as vezes não ficavam muito claros, eram como fragmentos dispersos, acho que se pode aprofundar mais nessas águas...

Parabéns Abração que continua fazendo arte e atravessando abismos, mesmo q muitas vezes em cima de uma corda bamba...

Beijos pra todos!!!

24 DE MARÇO DE 2009 16:58




quinta-feira, 7 de maio de 2009

A-Corda hoje – maio de 2009


Saber que esta é uma obra em processo sempre me tranqüiliza quando momentaneamente me desespero. E me momentaneamente me desespero quando perco o chão. E como nesta obra o chão é o não lugar o desespero momentaneamente me acomete. Repito o momentaneamente afinal, medos de cair a parte, pouco a pouco nos fortalecemos e vamos percebendo as inúmeras possibilidades corporais, sonoras e espaciais que nossa pesquisa cênica, aliada a esta empreitada arrojada de atuar em cordas bambas, pode nós levar. Aí relaxo pois o tempo é nosso aliado e ninguém está com pressa.

As últimas apresentações realizadas em Assunção – Paraguai nos proporcionaram, pela 1° vez, a experiência de tirar o cenário de nossa sede, já tão familiar, e readequá-lo num espaço bem maior e bem mais alto deixando a todos inicialmente apreensivos pelo pouco tempo que teríamos para ensaiarmos neste novo ambiente. Experimentamos também o uso de uma espessa camada de terra em toda a extensão do palco, idéia já sugerida anteriormente pela direção, proporcionando diferentes maneiras de utilização dos objetos cenográficos e de locomoção para os atores. Todas essas mudanças foram bem absorvidas pelo grupo demonstrando nossa capacidade em lidar com elas. Sabemos que a cada novo espaço por onde passarmos, adaptações se farão necessárias, o que não pode ser um problema pra quem escolheu encenar numa corda bamba.

Ah vida de artista, sempre na corda bamba! Quando meu corpo luta pra se equilibrar no slake, luta verdadeira onde o frescor do instante é sempre vivíssimo, pois numa corda bamba algo nunca é igual ao que era antes, não posso deixar de sentir profundamente nossa condição de artista brasileiro, sempre lutando por um espaço ao sol, por um reconhecimento que possa ajudar nosso grupo a alçar vôos maiores, por nosso pão de cada dia! 

Relendo a trajetória da minha personagem postada anteriormente neste blog, percebo que no Paraguai - pegando emprestada uma frase do Rual Cruz algo “caiu diferente na caixa do peito, fez barulho e doeu”. Acredito que a dor da personagem em ter uma vida inteira, afinal ela não é uma jovenzinha, marcada pela preparação de um encontro que nunca acontece, pesou um pouco mais. Já não é mais frustração nem perda, afinal não se perde o que nunca se teve, é um vazio mesmo, fundo. Vazio profundo e solitário. Poeticamente ou pateticamente contemporâneo.

Agora nosso desafio é continuar criando solitariamente, através de nosso treinamento diário e individual, um solo contendo toda a tragetória de nossos personagens. Desafio que nos impulsiona na direção de mais aprofundamento e consistência. Qual será a próxima parada desta corda que não para?

sábado, 2 de maio de 2009

ENTREVISTA COM O DIRETOR WAL MAYANS EM ASSUNÇÃO NA OCASIÃO DA ESTRÉIA LOCAL DE A-CORDA


MIÉRCOLES, ABRIL 29


Conversación con Wal Mayans


El director paraguayo Wal Mayans trabaja con la compañía teatral Abracao de Curitiba, Brasil, hace dos años. Su tarea dio como fruto la obra teatral A corda, que se presentó en Asunción los días 25 y 26 de abril pasados.
La propuesta escénica alternativa se presentó primero en el Festival Internacional de Curitiba, Brasil y recientemente en la sala Jerzy Grotowski del Espacio Cultural Tierra sin Mal de Asunción. Mayans compartió la dirección junto a la brasileña Letizia Gimaraes.
En esta nota, veremos más de cerca la tarea del director paraguayo con los actores brasileños. Wal Mayans es director y fundador del Proyecto Tierra sin Mal Hara Teatro. Tel. 00595-21-447853, Cel. 00595-981-820350. E-mail: tierrasinmal@gmail.com

Blogger: ¿Que representa para vos como director, autor y actor esta obra?
Entiendo que es fruto de tu trabajo de intercambio cultural con el grupo brasileño Abraçao.
Mayans: Ser reconocido como maestro, director de teatro y danza, y pedagogo, en una ciudad como Curitiba, ciudad modelo, es todo un logro.
En Europa nunca tuve problemas con los códigos artísticos contemporáneos y vanguardistas, siempre se lucieron en mi trabajo, los últimos fueron en Roma, en la Universidad La Sapienza en el aniversario del gran actor y director italiano Dario Fó y en la Escuela Nacional de Bellas Artes de Tirana, Albania.
Es mucho mas difícil ser reconocido en el Paraguay, sus códigos estéticos y artísticos son otros, son muy conservadores, las rupturas cotidianas para el cambio no son el pan de cada día de este país. Aquí rige lo cotidiano, tradicional y conservador.
Y me da mucha pena que la gente joven no se imponga, que no marquen sus derechos, sus propuestas, que siempre esperan que otros lo hagan, o por ser extranjero tiene ese derecho.
Trabajar con la Cía. Abraçao como maestro y director significa un paso muy grande. Me volví a sentir en sudamérica, mis actores no podían creer que el sacrificio de tantos años fuera reconocido, ya habiamos perdido la esperanza de reconocimiento y finalmente cuando el público de Curitiba aplaudía de pie y nos abrazaban llorando, dijimos que nuestro aporte seria universal y para todos y si en el Paraguay no están interesados llevaríamos nuestra técnica y nuestras propuestas a cualquier lugar del mundo.
En efecto hemos propuesto en la Universidad Federal de Curitiba y en el Teatro José de Alencar de Fortaleza, Brasil fundamentar una propuesta de Vanguardia latina con técnicas nuestras y locales. Y así esta comenzando el intercambio de técnicas, montajes, actores y pedagogía, etc.
La Cia Abraçao es un grupo muy disciplinado, trabajan todo el día estudiando y practicando sus propuestas, y eso se refleja en sus montajes, en efecto en la obra A CORDA, tuvieron un entrenamiento de un año mínimo de alpinismo y otras técnicas más.

A corda, trabaja con cuerdas. En este grupo el actor se pasea sobre ellas en una suerte de ejercicio del equilibrio físico y mental, ya que sobre ellas desarrollan sus diálogos. ¿Es así?
Si, evidentemente esto ya lo hacian como ejercicios en la época del director ruso Stanislavski (1863-1938), el otro coetano suyo y director ruso Meyerhold (1874 - 1942), que se dedicaba mas a las acciones físicas, él trabajaba con sus actores sobre cuerdas tensas en el aire, pues este director descubrio que el actor en su interpretación mentía mucho, por ello sus actores interpretaban sobre la cuerda y así veia la verdadera cara del actor al interpretar. Así como peleaba por salvar su vida sobre la cuerda tambien peleaba al mismo tiempo con una verdad única por interpretar su personaje. Los actores de la Cia Abracao lograron ya un trabajo interesante sobre el trabajo visual, interpretativo y musical cuando yo les conocí, tenian un sistema similar al nuestro: la Cultura de Grupo”, Para el milagro grupal ocurra está la responsable de este grupo Letizia Guimaraes que por años se ocupo de la formación y el montaje de los espectáculos. Letizia es una carismática directora que deja una impronta de su visión del mundo a travez de la poesia de imagen y sonora. Continuamente recorre un mundo que hace que sus espectadores analizen y objetivicen un sentido mas humano del existir cotidiano.

Podrías hablarme un poco más de la metodología del teatro primigenio
El teatro primigenio o la técnica primigenia no niene nada que ver con los indígenas o otra cultura primitiva, en realidad busca el impulso primero dentro del ser humano para mejorar y lograr modificar los comportamiento de propios que ya se encuentran influenciados por las aculturaciones cotidianas como: la religión, cultura barrial temporal, familiar, etc todo aquello que se te fue impuesto si que uno pueda decidir por su propia vida., todo lo que fue una educación cerrada y que no dio posibilidades de arreglar o mejora con su propia iniciativa.

Son muchos tipos de ejercicios donde no puede uno mentir, solo tienes que ser, no hay otro tiempo y otro espacio. Todo sucede y lo que sucede es un tiempo único e irrepetible. Nosotros vivimos ese tiempo, el tiempo unico de uno mismo, y para ello trabajamos para recibir esa energía y esa fuerza, logramos abrir ventanas ocultas y necesitamos estar preparados. No trabajamos estereotipos sino con cada trabajo surje su verdadero camino y para ello nos preparamos para cumplir y mediar con lo que llega.

Qué otros proyectos surgen luego de esta representación de dos días en el país
Bueno inmediatamente tenemos el viaje a Fortaleza, una invitación oficial para Hara Teatro del Estado de Ceará, Brasil para el Encuentro de Artes Escénicas del 17 al 23 de junio del 2009. Desde luego seguimos con la propuesta de ir a trabajar a Curitiba con nuevos espectáculos. Por ahora estamos haciendo todo lo posible por sostener nuestro Taller de Arte Infantil para el barrio, el estreno inmediato de la obra “Cenizas” al final de mayo de 2009 y una tratativa conla Comisión Europea en Italia para traer al teatro Potlach en el mes de Agosto dentro del marco Asunción Capital de la Cultura.
Y siempre estamos abiertos y con el deseo de emigrar a otro país para seguir desarrollando nuestras capacidades. Existe para mi siempre propuestas de trabajo en Italia o Brasil, pero tengo un grupo de por medio que me es muy importante. Si surguiera que un gobierno nos ofrece, crear un Centro por ejemplo en el Brasil, nos vamos de seguro, aqui ya no va mas, necesitamos hacer que se conozca todo lo que sabemos y nos hemos sacrificado por muchos años, llevo financiando mi esta idea de nuestro Teatro hace 14 años en Asunción, mas el sacrificio de la gente que trabaja conmigo a diario y 35 años a nombre de Paraguay por el mundo, y me rio cuando la gente dice vos hablas mal de Paraguay que poco nacionalista sos. Yo hablo, cambio y produzco y doy resultado sin ningun apoyo del estado, ahora que hace estado por nosotros?

Algo más en el tintero?
Un agradecimiento inmenzo a la Cia Abracao y sobre todo a Letizia Guimaraez y Blas Torres y a toda la compañia por visitarnos y encontrarse entre nosotros apoyandonos, estamos rompiendo las fronteras al menos con el arte. Ellos estaban mostrando un trabajo para niños “O TRENZINHO DO CAIPIRA” en el Tom Jobin, apoyados por la Embajadfa de Brasil y el Sabado 25, 21:00 hs y Domingo 26, 20:00 hs con la obra A CORDA, un montaje binacional brasilera-paraguaya con la dirección de Letizia Guimaraes y Wal Mayans en la sala Jerzy Grotowski del Espacio Cultural Tierra sin Mal, Gral. Díaz 1163 e/ Hernadaria y Don Bosco. Tel. 447853.
Para nosotros los componentes de Tierra sin Mal y Hara Teatro y sobre todo para mi es un milagro y un honor largamente acariciado, el haber logrado que la gente nos quieran y respeten nuestro sacrificio al trabajo artesanal artístico. Y agradezco mucho la confianza de esa cantidad de personas; actores, actrices, músicos, profesores, estudiantes y amantes del arte en el Brasil que nos escriben siguen esperando para que llevemos nuestros espectáculos y nuestros talleres. Tambien, personas que reconocieron el valor del arte trayendo sus espectaculos, donando al Paraguay sus trabajos, como son la Cia Abracao de Teato curitibano con el apoyo de Itaipú Binacional y la Embajada brasilera en el Paraguay y el Teatro Potlach de Italia con el apoyo dela Comisión Europea de Italia, que en estos días esperemos que tengamos una respuesta positiva para su venida.

Si quieres saber más de Wal Mayans
proyectotierrasinmal.blogspot.com
espacioculturaltierrasinmal.blogspot.com
soriateatroprimigenio.blogspot.com
segismundoharateatro.blogspot.com
cenizasharateatro.blogspot.com
walmayans.blogspot.com

quinta-feira, 16 de abril de 2009

SEM CHÃO


Pés em chão de nuvens.

Mãos segurando cordas sem fim atadas ao céu.

E se me atirasse agora na terra? Será que ainda conseguiria tocar o chão?

Caminho sem chão?

E continuo olhando o horizonte, e continuo subindo nessa corda...

E quando chegar às estrelas aonde ela esta amarrada, vou, enfim, chegar ao meu país.

Mas, enquanto essa corda for infinita...

Não sou a chegada.

Não sou o regresso.

Ainda sou o caminho.

E no meio do caminho tinha uma pedra?
No meio do caminho dos poetas, dos equilibristas, dos loucos e das crianças...

Têm estrelas.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Comentário sobre a Mostra de resultado no site da Curitiba Interativa



Ayrton Baptista Junior

21.03.2009


Viver como estrangeiro é se equilibrar sem rede de proteção, comunicam os sete atores de A-Corda, o novo embarque da Cia. Do Abração. A condição de forasteiro, entretanto, é descrita como fascínio, e não incômodo, nesta bela conciliação entre voz e movimento corporal (teatro-dança, para os íntimos) que merece sair do Jardim Social, bairro-sede do grupo curitibano, e viajar mundo afora.


Com fortes batidas de pé no chão, o elenco cria um trem imaginário que traz o hindu, o latino, a escandinava, o sertanejo, o africano. Ao desembarcar, os imigrantes se instalam nas várias cordas que habitam o palco-galpão, caminhando em todas as direções (vertical, horizontal), e percorrem, através da precisa iluminação, cores de todos os climas: a névoa, a palidez amarela, o vermelho de sol intenso.


Costuram os movimentos falas que ressaltam a inquietude e a incerteza destes viajantes que não têm saudades de casa. Aliás, há quem não tenha casa: “Meu lar é o meu sapato”, avisa o paraguaio que, alerta o brasileiro, canta mal o samba de Martinho da Vila. O texto se repete na boca de quase todos, deixando claro uma visão comum entre os inquietantes viajantes ricos e pobres, primeiro e terceiro-mundistas, de 
ambições regionais e cosmopolitas, que se encontram no Abração.


sexta-feira, 20 de março de 2009

10 anos depois Pisar o Palco novamente

São muitas as minhas dividas nesta vida. Comigo mesmo, pelo descaso à memória, pela pouca atencão a meus amigos, pela falta de tato e muitas outras... 

Cada passo dado foi uma pátria ganha e de pasinho a pasinho foram várias que é impossível saber qual delas me identifica mais ou menos. Hojé não sei ao certo se são partidas sem adeuses ou eternos desencontros de pátrias que sou e não me pertecem. Levo delas os afetos e defeitos e o hastéio como país de meus hermanos, únicos e indeléveis. Assím é a minha corda, BAMBA, más é nela que me sinto vivo, é nela que descubro meus rosais é nelas que planto meus amores é nelas que deixo minhas pisadas frágeis na humedade do orvalho.

Neste extranho mundo, quase bruno de saudades, me sorprende as tantas fronteiras que aprendera a desaprender, colhendo minhas raíces e minhas folhas alimetadas por esta humanidade sempre movediça e sempre sorprendente.

Não estou cabendo em mim de tanta alegria, ontem voltei a cêna apos uma longa invernada.

QUERIDOS COLEGAS, IRMÃOS DE FÉ E ESPERANÇAS, OBRIGADO PELO ACOLHIMENTO E PELA GENEROSSA DOAÇÃO DIARIA, EM VOCÊS TENHO AMARRADO A MINHA CORDA, E VOCÊS SÃO O PEDAÇO DE PÁTRIA ONDE SONHAMOS.

segunda-feira, 16 de março de 2009

A Mulher

O rosto vendado, o corpo tatuado, um espelho na mão...passo a passo, pouco a pouco a busca da semelhança em pessoas que um dia existirão.
Primeiro passo ao desconhecido!
Encontros e desencontros marcados no corpo, o corpo delicado que expositivamente se esconde, esperando que alguém a revele, esperando que tragam de volta seu jeito de sorrir ou qualquer das coisas que ja levaram.
Traço a traço o retrato, retraço de uma princesa, corrigido por um louco.

Um pouco sobre essa personagem

continua...

sábado, 7 de março de 2009

Sobre rosas

"Rosa é flor feminina que se dá toda e tanto que para ela só resta a alegria de se ter dado. Seu perfume é mistério doido. Quando profundamente aspirada toca no fundo íntimo do coração e deixa o interior do corpo inteiro perfumado. O modo dela se abrir em mulher é belíssimo. As petálas têm gosto bom na boca - é só experimentar".

Está é uma descrição da Clarice Lispector sobre as rosas e serve de inspiração e também de descrição da personagem Japonesa.

quarta-feira, 4 de março de 2009

O Instrangeiro - tentativas


Assim como o meu personagem, o "Instrangeiro", estou eu tentando elaborar uma sinopse segundo o que ele pensa na trajetória do espetáculo "A-Corda"... assim seja:

“A Corda” é o Espaço de uma Viagem, o espaço onde o Instrangeiro se encontra com desconhecidos em busca de um lado dele que se perdeu. A viagem começa quando o Instrangeiro, perturbado e confuso de si mesmo e de seus sentimentos, decide sair de sua terra triste e cruel, cheia de preconceitos e intolerância, em busca do seu outro Eu. O Instrangeiro não se reconhece mais e, ao se encontrar com os outros estrangeiros, tenta reconhecer o seu lado perdido, um lado feminino talvez, que vê o mundo por outro ângulo. A corda que sustenta ele, então, é a corda dos encontros e desencontros. Vê ao longe uma estranha mulher, coberta com vários panos, o rosto anulado e um espelho na mão, parece que também procura algo perdido, mas eles pouco se aproximam. Ao decorrer do tempo no Espaço da Viagem, o Instrangeiro tem alguns encontros.

O primeiro encontro se dá com dois estranhos, um homem e uma mulher. O homem usa uma venda nos olhos e parece ter algo a falar com ele. A mulher parece ser forte e desafiadora, algo se assemelha com o seu comportamento. Os três conversam, não se entendem. O Instrangeiro percebe que o que ele procura não está nos dois estranhos, pois ele sai magoado, como se cada um dos três quisesse arrancar algo um do outro. O segundo encontro é com um homem simples que parece ter algo de leve na alma. Os dois se divertem, cantam e dançam para descontrair o clima violento da viagem, mas são cortados por outro estranho que parece não gostar da diversão alheia. Nesse próximo encontro, esse estranho, barbudo, com certeza não tem nada que possa interessar ao Instrangeiro, pelo contrário, o ignora dando um adeus de “sem volta”. No momento desse adeus “sem volta” o Instrangeiro sente que qualquer despedida doe nele, mesmo sendo a mais insignificante. O adeus é uma palavra que o tortura. O quarto encontro é apenas uma rápida imagem que entra nele, a imagem de uma mulher bonita, com traços orientais, mas tímida. O Instrangeiro sente algo de bom ao ver a mulher, mas não sabe o quê.

O quinto encontro, o mais forte para ele é com aquela mulher que ele observava de longe no começo da viagem. Fica feliz ao vê-la, mas tenta desviar o caminho dela, parece ter medo. Logo após, volta atrás e se aproxima dela. Mais do que nunca sente a presença forte daquilo que ele procura. No caminho encontra-se novamente com a mulher oriental e fica dividido entre as duas. O Instrangeiro fica confuso, percebe que ainda assim não se reconhece. A tentativa de tirar delas o que ele busca vai desaparecendo. O Instrangeiro vê que a vida é uma eterna busca, parece que a vida perderá o sentido se o que ele procura for achado. Ele sabe que o outro Eu dele pode estar ali, mas não tenta arrancá-lo para si. O Instrangeiro é composto por relações com o outro, sem o outro ele não vive.

Por fim o Instrangeiro se transforma, se transforma em algo mais leve. Ele traz consigo apenas uma flor que ganhara da mulher que desencontrou, a flor de algum jardim esquecido, a flor estampada em sua saia, a flor que o guiará nos próximos encontros. 

sábado, 28 de fevereiro de 2009

UM PAÍS DE OLHOS FECHADOS - uma visão de quem não vê

Nesta história há uma viagem. Viagem minha. Viagem sem nome, sem destino. Viagem a qual não vejo. Ainda que não, me volto às primeiras lembranças, aos primeiros encontros. É minha vida, pés e mãos são meus olhos. O olhar estrangeiro dos companheiros de viagem sobre tudo, sobre todos, me levam do chão ao desequilíbrio do caminho.
Eu de olhos fechados, sombras do tempo cobriram o caminho, sinto um país que meu olhar na sombra procura e chama, que meus pés sem chão, passo a passo, percorrem. Neste sem chão, vivo com o alma amarrada às doces recordações que não voltam, canto de medo do instante que vem enfrentar minha vida, anseio pelas noites cheias de premonições que encadeiam meus sonhos. Neste desequilíbrio, nós viajantes que fugimos, cedo ou tarde deteremos nosso andar, amarrados, dependurados. E ainda que o possível esquecimento tudo destrua, adormeça o velho sonho da terra possível, guardamos escondida uma esperança humilde que é toda a sorte de nosso coração.

Pelo eu, subo novamente pelos nós desta viagem e tento chegar ao topo, no fim não vejo nada. Não temo a queda, temo o impacto, desço e subo. Aqui, nesta corda bamba, a cada fim volto ao início. E luzes que piscam em minha noite eterna sem estrelas, sem signos, indicam outros caminhos. É preciso partir.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ponto de vista da Japonesa

Partir é intrínseco a viver. Partir na busca de existir sendo plena. Ser plena é doar-se sem medos, sem tantas reservas. Partir movida pelo desejo de compartilhar uma vida nova noutro lugar.
As lembranças que ela gostaria de apagar, temem em seguir viagem. Lembranças de um passado que insiste em ser presente confundindo o instante – passado, presente e futuro se misturam criando uma realidade impar, tornando-a inacessível ao olhar do outro. Incomunicável silêncio.
A ansiedade da partida marca o ritual de preparação. Ela se prepara com todo cuidado e esmero para a viagem e seus possíveis encontros. Todos os rituais que constrói na preparação desses encontros, alimentam seu espírito de sonhos belos, inflamando e ao mesmo tempo retardando esses encontros, como se a preparação fosse mais importante que o próprio encontro. O ato de preparar-se é tão imenso que de tão grande, pesa e de tão pesado, só quem é muito leve pode suportá-lo.
A viagem é longa, difícil, marcada por obstáculos que ela transpõe pouco a pouco embalada por seus devaneios.
O frisson do 1º encontro deixa tudo delicadamente intenso e verdadeiro. Ela traz consigo flores e pequenos presentes que anseia compartilhar. A realidade do 1º encontro não casa com a fantasia da preparação que é ela própria. Seu perfume nem é notado e suas preciosas flores, pisoteadas. Cambaleante segue viagem.
A decepção deste encontro anula seus sonhos e, portanto, ela própria. Mais um desencontro, mais um desmaio, mais devaneios, agora, enquanto forçosamente dorme.
Alguém amparou sua queda, silenciosamente cuidou dela, alimentando seu espírito. Novamente o ritual de preparação se inicia impulsionando sua viagem, transformando cada trecho sinuoso e aparentemente intransponível, em algo único e insubstituível, como se todos os obstáculos tivessem sido especialmente preparados pra que ela os transpusesse. Transpor a dor de sua solitária preparação. Preparação que está na raiz de sua existência, na gênese de sua criação cravada no seu DNA. Como superar essa ancestralidade marcada pela resignação feminina?
Novos encontros com essa mesma pessoa que a amparou vão acontecendo, culminado na delicadeza da troca, fazendo-a momentaneamente plena. Momentaneamente, afinal, cada um segue seu caminho. E o seu caminho é apenas seguir, seguir para sonhar, sonhar para viver na preparação de construir, solitaria e profundamente, o melhor de si para poder trocar e novamente seguir, já não importa mais pra onde. Seu sentido está em ser e não mais em estar. Quem sabe sendo, ela não possa finalmente transformar um desencontro num encontro.

“Esse ar solto, esse vento que me bate na alma da cara deixando-a ansiada numa imitação de um angustiante êxtase cada vez novo, novamente e sempre, cada vez o mergulho em alguma coisa sem fundo onde caio sempre caindo sem parar até morrer e adquirir enfim silêncio. Oh vento siroco, eu não te perdôo a morte, tu que me trazes uma lembrança machucada de coisas vividas que, ai de mim, sempre se repetem, mesmo sob formas outras e diferentes. A coisa vivida me espanta assim como me espanta o futuro. Este, como o já passado, é intangível, mera suposição”.

Clarice Lispector

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

APRESENTAÇÃO NO FESTIVAL DE CURITIBA

Um grupo de personagens “estrangeiros”, em condição de imigrantes, apresenta suas histórias, em encontros e desencontros, num cenário composto de cordas, como conexão estética e filosófica das relações sociais.
Buscando uma estética ousada, A-Corda propõem um teatro aéreo.


SERVIÇO

A-Corda – Espetáculo dirigido ao público adulto, 45 minutos.

Com: Fabiana Ferreira, Carolina Mascarenhas, Val Salles, Hélio de Aquino, Blas Torres, Moira Albuquerque e Simão Cunha.

Direção: Letícia Guimarães e Wal Mayans

Realização: Cia. do Abração

Data: 19,20 e 21 de março, às 20:00h

Local: Sala Simone Pontes – Cia. Do Abração – Rua Paulo Ildefonso Assumpção, 725 – Jardim Social

Lotação: 30 pessoas

Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (estudantes)

INFORMAÇÕES: fones.: 3362-9438, 3362-9595

FOTOS DE ELENIZE DEZGENISKI







sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

COMO ÀS VEZES É DIFÍCIL RECORDAR...

A-CORDA, o Estrangeiro... O primeiro contato com o ser estrangeiro que eu tive no processo da corda (pode parecer piada, mas não é), foi com a entrada do Blas nos treinamento da manhã ainda no começo do ano. Desde novembro de 2007 o Beto Ascaneo fazia o treinamento para fortalecimento e resistência corporal utilizando a técnica de Pilates. Além das técnicas, passava improvisações corporais. A nossa diretora Letícia Guimarães, sempre que via os improvisos, notava que havia nos atores um vício corporal, uma bengala, um “mesmo” vindo de outros trabalhos. “E como quebrar esses vícios???”. Essa foi uma pergunta que eu me fazia muito durante esse período. Hoje tenho a audácia de tentar dar uma primeira resposta para esse questionamento: 1º - A manipulação de energia. Velho conhecido da Cia. do Abração através da Letícia. 2º - Teatro Primigênio – lançado para a Cia. do Abração por Wal Mayans. E esses “vícios” não eram somente de forma individual, mas em grupo também. Executávamos as improvisações com excessivo cuidado com o outro, havia o contato físico, mas de forma somente plástica, os corpos sempre no plano médio e alto, quase sempre linhas. E o Blas quebrou essas formas. Já nas primeiras improvisações o Blas não demonstrava nenhum tipo de receio em utilizar o corpo do próximo como alavanca ou base. No geral o que observei, foi que com o Blas aprendemos rapidinho a trabalhar no plano baixo, utilizar o apoio das mãos, a torcer o corpo para manter-se em equilíbrio, estado de atenção constante, o que a principio foi o estranho, o estrangeiro, com o passar do tempo começou a ser nossa nação. (Mas “longe de mim” querer apontar definitivamente um caminho para esses processos). E não foi só neste momento que o Blas representou dentro da Cia. “a criança que grita em meio a multidão que o Rei está nu”, “o alfaiate que ousou observar Lady Godiva nua”... Talvez por isso o Blas tenha sido um dos meus materiais de estudo, de admiração e de aprendizagem, apesar de ter a premissa que as resposta estão dentro da gente, não posso negar que através do Blas consegui enxergar um pedacinho desse meu “eu primigênio”, dessa minha alma perdida dentro desse vazio contemporâneo.
Em fevereiro de 2008 também tivemos aulas de tecido acrobático como um pré corda propriamente dita, com Maicon Klein. Acho que o grupo começou a perceber que “a corda era muito mais em baixo”. Junto a essas oficinas mantivemos o trabalho da Eliane Campelli de “espaço, corpo e som”, que mais para o final desse primeiro processo intensificou a questão do corpo, utilizando bastante a Ioga, (que já não me parece tão “leve” assim), e intensificou a questão da musicalidade. Também já no final do processo a Campelli fez um trabalho, pode se dizer, de “consciência corporal quando o corpo esta no limite” (rsrsrsrs) Posições para o corpo relaxar, o certo e errado para amenizar dores, além de ajudar também no processo coreográfico da obra, não necessariamente criando, mas colocando mais qualidade de movimento nas coreografias, (alguém ai lembra do tai chi?). 

Também no começo desse ano se juntou a Cia. do Abração, substituindo Karla Izidro, o oficineiro de música Alysson Siqueira, que de seu trabalho o que mais forte ficou para o processo A-Corda foi a oficina de construção de instrumentos musicais de corda, que durante um tempo foram abandonados, e nosso Tirésias Blas Torres colocou novamente na nossa obra. Também no final do processo, e paralelamente a Campelli, o Alysson também foi nosso alicerce na parte musical (quem ai lembra da musica guarani?). Outro oficineiro desse processo foi o “Kamikase” Juca, que literalmente injetou um gás na gente. O Juca foi nosso oficineiro de corda bamba, nosso assessor na questão de segurança, basicamente nosso instrutor aéreo, (quem ai não lembra do primeiro passo no slak, que ai não “re-corda” do Juca, do Blas e do Helio se arriscando e acrobacias?).

Sobre o processo A-Corda foi isso que eu “re-cordei” até o momento de forma mais “técnica”, de forma sistemática falta ainda 3 “temas” – Wal Mayans, Letícia Guimarães e o processo de criação do personagem. Fica aqui a minha dificuldade em falar sobre o que vivi nos processos de criação de forma mais concreta e “cientifica”, fazendo um paralelo ao meu texto do processo de “Estórias Brincantes de Muitos Paizinhos”, que assim como a maioria dos meus textos “ é um depoimento pessoal- emocional”, não um escrito para um estudo de Teatro de Grupo.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Um olhar sobre A-CORDA


“Não há território sem um vetor de saída do território e não há saída do território, ou seja, desterritorialização, sem, ao mesmo tempo, um esforço para se reterritorializar em outra parte” (Gilles Deleuze).

Aos meus olhos recém chegados a Cia. do Abração, nem tanto estrangeiros, no entanto, ainda não reterritorializados, assumo essa tentativa íngreme: estabelecer uma relação de conhecimentos relativos a um projeto que me envolve, não apenas intelectualmente, tendo em vista a área de pesquisa e os resultados alcançados, como de forma subjetiva e emotiva.

Essa corda que separa e que une, que possui dois lados, duas pontas. Que relativiza e torna um. Já surge como um objeto que propõe equivalência e oposição. Vejo A-CORDA como um projeto que veio inspirar novos caminhos para companhia, tendo em vista que o território só vale a partir do momento que se sai dele. A-CORDA e os elementos que o projeto trouxe para o grupo tornaram-se de fato “o estrangeiro” para esse território da companhia, já com uma busca estética própria, uma pequena pátria formada. Assim, dois elementos unidos buscando resignificação.
Estruturas físicas criando repertório, corpos pré-expressivos. Atores que desenvolveram um treino pessoal, agregando a ele novos exercícios.

Na mostra do resultado de pesquisa, apresentaram-se não apenas corpos de personagens estrangeiros que se relacionavam uns com os outros, trazendo cada um uma história que se entrelaçava e/ou se desfazia. Vi corpos de atores que não apenas executavam movimentos, não apenas calcados na fisicidade, mas que se apropriaram da técnica e se dilataram, se prolongaram além das estruturas físicas, passaram a possuir corporiedade. Sobre tudo, atores buscando corpos estrangeiros, utilizando-se de uma técnica também estrangeira, sofrida como o corpo fora do contexto de sua pátria. Não apenas corpos se distribuindo pelo espaço, mas o espaço ocupando os corpos.

Sair de seu território é se aventurar. Voltar para a própria pátria, acredito, é outro processo de reterritorialização, tendo em vista que este estrangeiro volta para suas raízes com uma bagagem cultural diferente da sua anterior. A-CORDA transpassa, transborda, é um processo contínuo, reflete-se nos demais projetos. O estrangeiro passa a não ter pátria própria, é do mundo.

“A transição é uma cultura”
(Eugênio Barba)


Naiara Luiza Bastos

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

“todo projeto supõe ruptura com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade na busca da qualidade”.
Moacir Gadotti


Durante o processo que começou antes de ser “oficial”, A-Corda pretendia ser realizada com os “sobreviventes” gerou uma grande expectativa com vinda do Wal Mayans, diretor teatral que trabalhou mais de 20 anos com Eugênio Barba, e que voltou para sua cidade natal , para construir a sua forma de trabalho, um trabalho latino-americano da Primigenia teatral, quebrando com europeização da arte. Diziam que durante um processo, que é muito pesado, ele não expulsa ninguém, os atores se expulsam, ou seja, a expectativa e a tensão por este diretor eram grandes. Antes do processo começar na pratica, alguns atores já saíram, por vários motivos, ideológicos, éticos, familiares, pessoais, entre outros.
Os atores que ficaram continuaram a trabalhar o corpo, mas agora com outro intuito que era criar muita força, para agüentar com apenas uma mão seu próprio corpo pendurado na corda.
Acordar mais cedo que o habitual, realizar um trabalho com muita disciplina de muito esforço físico e psicológico. Psicológico, por ter de aprender a lidar com as dores diárias, por ser um trabalho individual mesmo sendo coletivo, cuidar para que sua mente não vá para outros lugares que não sejam aquele, aprender a lidar com o constante desequilíbrio corporal, tanto em cima de uma corda, como fora dela.
Como diz GROTOWSKI, “como o material do ator é o próprio corpo, esse deve ser treinado para obedecer, para ser flexível, para responder passivamente aos impulsos psíquicos, como se não existisse no momento da criação - não oferecendo resistência alguma. A espontaneidade e a disciplina são os aspectos básicos do trabalho do ator, e exigem uma chave metódica”
Foram criadas partituras corporais individuais e coletivas, as primeiras eram compilações de exercícios realizados, com algumas características e incrementações pessoais. Com a primeira idéia de trenning pessoal e coletivo, para nós ou para mim, eram apenas partituras, mas para o Wal eram danças corporais (Primigênia), que o diretor une tudo que foi criado e monta uma dramaturgia, monta um espetáculo. Com as cenas já estruturadas, textos, musicas e seqüências, a Letícia juntamente com o Wal, foram trabalhando os detalhes, limpando cada movimento, cada entrada e saída, dos atores, dos textos, das musicas (que eram realizadas pelos próprios atores, em cena). A maioria das cenas criadas eram realizadas no chão, com o tempo e com segurança que adquirimos nas cordas transferimos algumas cenas para as cordas horizontais e verticais.
Desde o começo do processo, foi pedido para fazermos relatórios, semanais ou diários:

25/07/08
Hoje sinto o cansaço desses dias de trabalho, minhas pernas estão mais duras, mas ao mesmo tempo mais frágeis.
Fizemos a “criação” dos personagens. Troquei o chapéu que usava por uma tela que esconde meu rosto, na mala só levei o espelho... Fui questionada por que mudei, não soube explicar, apenas disse que estava experimentando. Eu gostei me sinto melhor assim, o interior ficou bem mais forte, mas parece que não gostaram muito.
Tenho que buscar mais a precisão.


Este foi o único diário de trabalho que fiz, depois deste dia nunca mais escrevi. Esta personagem crescia a cada dia, uns dias mais, outros nem tanto. Voltei a usar o chapéu, mas não abandonei a tela, apenas usei as duas idéias já montadas. Surgiu à idéia de cada personagem ser de uma nacionalidade, o meu era árabe, traduzi textos, explorei alguns elementos, como as tatuagens corporais das mulheres.
Posso de uma forma bem superficial dizer que minha personagem se tornou uma mulher altiva com o corpo tatuado, o rosto vendando, e um espelho na mão em busca do primeiro passo.
“Depois do primeiro passo, passo para um novo primeiro passo. Passo, passo. O primeiro passo, a briga constante para não perder o equilíbrio, o passo, o compasso...”
( trecho do espetáculo A-Corda)

Pontos importantes a serem destacados, como as oficinas realizadas antes e durante o processo: oficina Espaço, Corpo e Som realizada pela Eliane Campelli foi fundamental. O espaço que utilizamos para a apresentação não era muito grande e dentro dele estavam 7 atores e varias cordas espalhadas, a percepção e sensibilidade com espaço eram muito importantes. Noção rítmica musical também trabalhada por ela, como pelo Alysson Siqueira, que nos ajudou também a construir instrumentos de corda. Destaco também a oficina de Beto Ascânio, que nos deu uma preparação física de fortalecimento e consciência corporal, para que quando recebêssemos o Wal, não sofrêssemos tanto. Tecido acrobático com o Maicon Clenk que serviu como preparação para subir na corda. Juca do Campo Base, com nos treinou fisicamente para subir na corda bamba, e criar mais condicionamento físico.
Alem das oficinas gostaria de destacar os grupos de estudos que foram fundamentais para abranger nosso trabalho, as entrevistas com os seres estrangeires que vivem ao nosso lado – nossos visinhos. E o intercambio cultural com o grupo do Wal Mayans, que foi super importante para sentir na pele como é ser estrangeiro.
Gostaria de detalhar cada momento vivido durante este um ano de processo, que seria melhor construir um livro, como não temos este espaço ainda, fico por aqui. Mas acredito que tudo que vivemos, nos fez amadurecer muito como artistas e como grupo, e que este processo esta apenas no começo.

“Pensar o projeto artístico pedagógico neste sentido é pensar o grupo em constante renovação de técnicas e conhecimentos de seus projetos com seu público. Nesta perspectiva, precisa-se ter a utopia como meta e, sendo profissionais do teatro, refletir e transformar a realidade da localidade de trabalho, é dar abertura ao desenvolvimento cultural, da busca incansável da revolução pelo teatro”
Eder Sumariva Rodrigues

POR ENQUANTO, A CORDA.

No processo de criação da 1° etapa de A-Corda, dentro do projeto de pesquisa em linguagem teatral da Fundação Cultural de Curitiba, o foco temático trabalhado foi o ser estrangeiro. Um tema abrangente quando nos aprofundamos no assunto e damos asas aos devaneios. Teorias a parte, outro ponto fundamental deste processo foi a preparação física conduzida e dirigida por Wal Mayans, diretor paraguaio criador do Teatro Primigênio, fundamentado na antropologia teatral de Eugênio Barba, com quem estudou e trabalhou e desenvolve pesquisa até hoje.

Ao estudar o tema estrangeiro algumas delimitações foram necessárias e fomos optando por falar do estrangeiro de lugar, de língua e de si mesmo. Apresentar estas idéias e desenvolver cenas acerca disto foi o desafio de um ano de trabalho diário. O longo processo se torna curto quando pensamos que sua pesquisa ainda não acabou. Uma linguagem não se desenvolve em um ano de pesquisa, é um processo continuado e muito mais longo. Como todos os processos desenvolvidos pela Cia do Abração, este também se divide em fases teóricas e práticas, e também neste pode se afirmar que todo o material levantado em mesa deu base firme à delimitação que encontramos ao foco que escolhemos. Falar dos caminhos, das escolhas, dos encontros e desencontros na vida do estrangeiro. Estrangeiro de um país interior e exterior.

Michel Foucault e “A Verdade e as Formas Jurídicas”, Affonso Romano de Sant'Anna e “A Cegueria e o Saber”, Eugenio Barba, arte terapia, arte conceitual, arte identidade, arte educação, culturação e aculturação, entre outros tantos assuntos, rodaram pelas “mesas” e se embrenharam nos corpos criadores. O conceito “corpo criador” é somente para abranger a totalidade dos sentidos e todas as formas de cognição e expressão de que se utiliza o pesquisador dentro deste processo.

De Foucault a maior relevância além do nó que deu nessa corda, foi o retrato de nossa contemporaneidade com seus jogos de poder e formas de controle social. Affonso Romano exerce a mesma função, porém com mais delicadeza artística em sua retórica, o que desata o nó anterior, pelo menos para os corpos criadores em questão. Ouso brincar com os termos abordados e me exponho em inventar uma paráfrase que pode ir contra tudo o que se discutiu, dependendo do ponto de vista: Somos cegos de nossas verdades e formas. E o nosso saber se torna controlado pelas mesmas formas e verdades.

Afirmo que Affonso Romanno de Sant’ana foi a primeira corda que agarramos e que inspirou profundamente quem aqui escreve, por isso destaco alguns pontos importantes em nossas mesas. Ao tratar de arte conceitual em “O sem fim do fim da arte” e o “Circo e o ciclo das transgreções”, lembro as falas sobre a fagocitação da arte pela filosofia e a banalização da arte, assim com a própria arte que banaliza, apontando Darko Maver e “seus corpos que já não criam” como exemplo. Em “Da Cura do real pela Ficção” as questões da arte terapia, arte tratamento e a compreensão do sensível e as formas sensíveis de tratar. Destaco a frase “Reescrever a vida alheia alterando o porvir” de Romanno, em paralelo com nosso intuito de entrevistar nossos vizinhos e levá-los a cena, não como terapia, mas como arte. E também a frase de Clarice Linspector, citada no mesmo capítulo de “A Cegueira e O Saber”, “Uma pessoa pode encalhar numa palavra e perder o resto da vida” rememorando a entrevista dos colegas Blás e Val com uma vizinha no seu mundo de estrangeirice e instrangeirice. Ainda passo pelas letras que modificam vidas em “Fixando palavras em Mahakeshi” e o hibridismo que deve ter inspirado o colega Simão em “Hércules e os travestis” com sua meia mulher dentro dos másculos. En Passant reavivo a não religiosidade de Deus diante dos desconcertos do mundo.
“Diante dos desconcertos do mundo consertar a orquestra de desconcertos”
(Romanno)

Já que apresentei mais acima o termo corpo criador, que não é invenção minha, resolvo ressaltar como se prepara o mesmo dentro do processo em questão: Pitadas de Yoga, pilates, escalada, consciência corporal, dança criativa, improvisação, tai chi chuan, respiração, tecido acrobática, corda bamba, trapézio, acrobacias de solo e aéreas, voz, voz e mais voz, batucadas e doses generosas de teatro físico baseado em Barba, dentro da Primigenia Teatral de Mayans. Uma receita que ainda não foi levada ao forno, está crescendo e ganhando consistência.

Um grande acréscimo foi a vindo Grupo Hara de teatro do Paraguai, dirigido por Wal Mayans para Curitiba com seu espetáculo Soria, que se apresentou no mês de junho no espaço TEUNI da UFPR. Em uma iniciativa de intercâmbio Cultural entre as culturas destes dois países tão próximos e tão ricos em diferenças culturais. Próximos principalmente dentro da própria Cia do Abração que tem em um de seus integrantes, Blas Torres, a dupla nacionalidade dos países citados. Dupla nacionalidade conseguida a duras penas no decorrer do processo de A Corda em meio a todas as pesquisas de estrangeiros e instrangeiros que realizávamos. Nada mais que um material inspirador para a pesquisa e a criação.

Voltando ao Hara Teatro, a convivência com estrangeiros reais, sem domínio da língua portuguesa e num portunhol nem sempre compreensivo fez a realidade se desdobrar e tornar material os devaneios (lembrando Selma Baptista em “O Banho”). Desdobrou também em mais um intercâmbio com a ida do Grupo da Cia do Abração, com dois espetáculos, “O Banho” e “Um Mundo debaixo do Meu chapéu” para Assunção no Paraguai. Concretizando o ser estrangeiro e suas palpáveis questões, nos corpos criadores de A corda.

Este texto ainda não está concluído e creio que sobre o que apontei até aqui preciso muito mais aprofundamento. Mas ouso postá-lo assim mesmo até para cumprir prazos sobre os quais nos responsabilizamos. Em uma breve conclusão brinco seriamente dizendo que A Corda merece uma tese.

Em breve concluirei e aprofundarei as idéias apresentadas.

O SOBREVIVENTE

por Carolina Mascarenhas


Um pouco de poesia, para o nosso vazio ficar mais cheio de belo.


O SOBREVIVENTE

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Carlos Drummond de Andrade