“Não há território sem um vetor de saída do território e não há saída do território, ou seja, desterritorialização, sem, ao mesmo tempo, um esforço para se reterritorializar em outra parte” (Gilles Deleuze).
Aos meus olhos recém chegados a Cia. do Abração, nem tanto estrangeiros, no entanto, ainda não reterritorializados, assumo essa tentativa íngreme: estabelecer uma relação de conhecimentos relativos a um projeto que me envolve, não apenas intelectualmente, tendo em vista a área de pesquisa e os resultados alcançados, como de forma subjetiva e emotiva.
Essa corda que separa e que une, que possui dois lados, duas pontas. Que relativiza e torna um. Já surge como um objeto que propõe equivalência e oposição. Vejo A-CORDA como um projeto que veio inspirar novos caminhos para companhia, tendo em vista que o território só vale a partir do momento que se sai dele. A-CORDA e os elementos que o projeto trouxe para o grupo tornaram-se de fato “o estrangeiro” para esse território da companhia, já com uma busca estética própria, uma pequena pátria formada. Assim, dois elementos unidos buscando resignificação.
Estruturas físicas criando repertório, corpos pré-expressivos. Atores que desenvolveram um treino pessoal, agregando a ele novos exercícios.
Na mostra do resultado de pesquisa, apresentaram-se não apenas corpos de personagens estrangeiros que se relacionavam uns com os outros, trazendo cada um uma história que se entrelaçava e/ou se desfazia. Vi corpos de atores que não apenas executavam movimentos, não apenas calcados na fisicidade, mas que se apropriaram da técnica e se dilataram, se prolongaram além das estruturas físicas, passaram a possuir corporiedade. Sobre tudo, atores buscando corpos estrangeiros, utilizando-se de uma técnica também estrangeira, sofrida como o corpo fora do contexto de sua pátria. Não apenas corpos se distribuindo pelo espaço, mas o espaço ocupando os corpos.
Sair de seu território é se aventurar. Voltar para a própria pátria, acredito, é outro processo de reterritorialização, tendo em vista que este estrangeiro volta para suas raízes com uma bagagem cultural diferente da sua anterior. A-CORDA transpassa, transborda, é um processo contínuo, reflete-se nos demais projetos. O estrangeiro passa a não ter pátria própria, é do mundo.
“A transição é uma cultura”
(Eugênio Barba)
Naiara Luiza Bastos
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