Saber que esta é uma obra em processo sempre me tranqüiliza quando momentaneamente me desespero. E me momentaneamente me desespero quando perco o chão. E como nesta obra o chão é o não lugar o desespero momentaneamente me acomete. Repito o momentaneamente afinal, medos de cair a parte, pouco a pouco nos fortalecemos e vamos percebendo as inúmeras possibilidades corporais, sonoras e espaciais que nossa pesquisa cênica, aliada a esta empreitada arrojada de atuar em cordas bambas, pode nós levar. Aí relaxo pois o tempo é nosso aliado e ninguém está com pressa.
As últimas apresentações realizadas em Assunção – Paraguai nos proporcionaram, pela 1° vez, a experiência de tirar o cenário de nossa sede, já tão familiar, e readequá-lo num espaço bem maior e bem mais alto deixando a todos inicialmente apreensivos pelo pouco tempo que teríamos para ensaiarmos neste novo ambiente. Experimentamos também o uso de uma espessa camada de terra em toda a extensão do palco, idéia já sugerida anteriormente pela direção, proporcionando diferentes maneiras de utilização dos objetos cenográficos e de locomoção para os atores. Todas essas mudanças foram bem absorvidas pelo grupo demonstrando nossa capacidade em lidar com elas. Sabemos que a cada novo espaço por onde passarmos, adaptações se farão necessárias, o que não pode ser um problema pra quem escolheu encenar numa corda bamba.
Ah vida de artista, sempre na corda bamba! Quando meu corpo luta pra se equilibrar no slake, luta verdadeira onde o frescor do instante é sempre vivíssimo, pois numa corda bamba algo nunca é igual ao que era antes, não posso deixar de sentir profundamente nossa condição de artista brasileiro, sempre lutando por um espaço ao sol, por um reconhecimento que possa ajudar nosso grupo a alçar vôos maiores, por nosso pão de cada dia!
Relendo a trajetória da minha personagem postada anteriormente neste blog, percebo que no Paraguai - pegando emprestada uma frase do Rual Cruz algo “caiu diferente na caixa do peito, fez barulho e doeu”. Acredito que a dor da personagem em ter uma vida inteira, afinal ela não é uma jovenzinha, marcada pela preparação de um encontro que nunca acontece, pesou um pouco mais. Já não é mais frustração nem perda, afinal não se perde o que nunca se teve, é um vazio mesmo, fundo. Vazio profundo e solitário. Poeticamente ou pateticamente contemporâneo.
Agora nosso desafio é continuar criando solitariamente, através de nosso treinamento diário e individual, um solo contendo toda a tragetória de nossos personagens. Desafio que nos impulsiona na direção de mais aprofundamento e consistência. Qual será a próxima parada desta corda que não para?
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