quarta-feira, 4 de março de 2009

O Instrangeiro - tentativas


Assim como o meu personagem, o "Instrangeiro", estou eu tentando elaborar uma sinopse segundo o que ele pensa na trajetória do espetáculo "A-Corda"... assim seja:

“A Corda” é o Espaço de uma Viagem, o espaço onde o Instrangeiro se encontra com desconhecidos em busca de um lado dele que se perdeu. A viagem começa quando o Instrangeiro, perturbado e confuso de si mesmo e de seus sentimentos, decide sair de sua terra triste e cruel, cheia de preconceitos e intolerância, em busca do seu outro Eu. O Instrangeiro não se reconhece mais e, ao se encontrar com os outros estrangeiros, tenta reconhecer o seu lado perdido, um lado feminino talvez, que vê o mundo por outro ângulo. A corda que sustenta ele, então, é a corda dos encontros e desencontros. Vê ao longe uma estranha mulher, coberta com vários panos, o rosto anulado e um espelho na mão, parece que também procura algo perdido, mas eles pouco se aproximam. Ao decorrer do tempo no Espaço da Viagem, o Instrangeiro tem alguns encontros.

O primeiro encontro se dá com dois estranhos, um homem e uma mulher. O homem usa uma venda nos olhos e parece ter algo a falar com ele. A mulher parece ser forte e desafiadora, algo se assemelha com o seu comportamento. Os três conversam, não se entendem. O Instrangeiro percebe que o que ele procura não está nos dois estranhos, pois ele sai magoado, como se cada um dos três quisesse arrancar algo um do outro. O segundo encontro é com um homem simples que parece ter algo de leve na alma. Os dois se divertem, cantam e dançam para descontrair o clima violento da viagem, mas são cortados por outro estranho que parece não gostar da diversão alheia. Nesse próximo encontro, esse estranho, barbudo, com certeza não tem nada que possa interessar ao Instrangeiro, pelo contrário, o ignora dando um adeus de “sem volta”. No momento desse adeus “sem volta” o Instrangeiro sente que qualquer despedida doe nele, mesmo sendo a mais insignificante. O adeus é uma palavra que o tortura. O quarto encontro é apenas uma rápida imagem que entra nele, a imagem de uma mulher bonita, com traços orientais, mas tímida. O Instrangeiro sente algo de bom ao ver a mulher, mas não sabe o quê.

O quinto encontro, o mais forte para ele é com aquela mulher que ele observava de longe no começo da viagem. Fica feliz ao vê-la, mas tenta desviar o caminho dela, parece ter medo. Logo após, volta atrás e se aproxima dela. Mais do que nunca sente a presença forte daquilo que ele procura. No caminho encontra-se novamente com a mulher oriental e fica dividido entre as duas. O Instrangeiro fica confuso, percebe que ainda assim não se reconhece. A tentativa de tirar delas o que ele busca vai desaparecendo. O Instrangeiro vê que a vida é uma eterna busca, parece que a vida perderá o sentido se o que ele procura for achado. Ele sabe que o outro Eu dele pode estar ali, mas não tenta arrancá-lo para si. O Instrangeiro é composto por relações com o outro, sem o outro ele não vive.

Por fim o Instrangeiro se transforma, se transforma em algo mais leve. Ele traz consigo apenas uma flor que ganhara da mulher que desencontrou, a flor de algum jardim esquecido, a flor estampada em sua saia, a flor que o guiará nos próximos encontros. 

2 comentários:

Ritalix disse...

Pergunta: Porque INStrangeiro?

Simão Cunha disse...

Então Rita... A Palavra Instrangeiro vem a partir do momento que o meu personagem não se reconhece, é estrangeiro de si mesmo. Um estrangeiro Interno. Essa palavra não foi eu que inventei. em uma conversa com um colega ele me falou que viu esse termo num livro que estava lendo, achei bem pertinente para o personagem que eu estava criando... só não lembro em que livro ele encontrou o termo... vou procurar e quem sabe recomendo o livro aqui no Blog....

SImão Cunha

O SOBREVIVENTE

por Carolina Mascarenhas


Um pouco de poesia, para o nosso vazio ficar mais cheio de belo.


O SOBREVIVENTE

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Carlos Drummond de Andrade