terça-feira, 7 de outubro de 2008

SOBRE AS VÁRIAS VIAGENS COM O ABRAÇÃO

Achava que eu era um vulcão...
mas vulcões estão sempre atrelados a uma mesma terra...
ai, ai...
Descobri que posso viver em qualquer lugar, comer todo dia uma comida nova, e ir dormir todas as noites sempre com um novo céu.
Preciso levar somente meu filho e o meu rímel (rsrsrsrs)... O resto são só pequenas coisas que às vezes achamos que precisam habitar na gente... Deve ser esse terrível hábito de nos acharmos importantes... Agora entendo Alexandre. Agora entendo Marco. Agora (acho) que posso começar a me entender. Não sou eu quem quero conquistar o mundo pra mim... Quem deseja o mundo, são os meus olhos, que tão cego de todos os dias, precisam de muito mais que luz.

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O SOBREVIVENTE

por Carolina Mascarenhas


Um pouco de poesia, para o nosso vazio ficar mais cheio de belo.


O SOBREVIVENTE

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Carlos Drummond de Andrade