quinta-feira, 25 de setembro de 2008

ENSAIO ABERTO DE 24 DE SETEMBRO




O ensaio aberto de 24 de setembro proporcionou aos espectadores a oportunidade de participar do aquecimento preparatório para a demonstração que se seguiria, com Wal Mayans. Com interesse grande parte da platéia aderiu à proposta da noite.
Após o público retornar aos seus lugares demonstrou-se como se dá o processo de criação, repetindo uma mesma sequência de exercícios que em sua evolução se converteu em cena.
Por último, um improviso partindo de tema sugerido pela platéia, para exemplificar como sequências de movimentações montadas aleatóriamente podem ser organizadas e virar cenas.
Uma grande aula de teatro para quem teve o privilégio de participar.
por às

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O SOBREVIVENTE

por Carolina Mascarenhas


Um pouco de poesia, para o nosso vazio ficar mais cheio de belo.


O SOBREVIVENTE

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Carlos Drummond de Andrade