segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O que resta em mim


Eu, que temia tanto a solidão, me vejo assim, agora, sozinho.
Sem aquele sopro no meu ouvido, sem aquela luz ao alcance de minhas mãos, que me mostravam o caminho e me guiava ao universo da paz, à ponta da corda, que aliviava a minha respiração, que acalmava o tom melancólico e puro do meu coração eufórico.
Eu, que temia a falta de um batente para sentar a pensar na vida passante, me vejo aqui, assim, numa corda bamba que não me mostra a luz daquele universo que almejava.
O que resta em mim é um outro que espera, espera sem poder sentar.




Escrevi esse texto para compor a dramaturgia do meu personagem, e plagiando a Carolina, posto para compartilhar com todos.







2 comentários:

Tobias de Macedo, 165 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tobias de Macedo, 165 disse...

Val, obrigada pela mensagem! Esperamos você lá nos próximos finais de semana! E boa sorte com este trabalho também, sucesso sempre!

Um abraço de toda a equipe do Casados.

O SOBREVIVENTE

por Carolina Mascarenhas


Um pouco de poesia, para o nosso vazio ficar mais cheio de belo.


O SOBREVIVENTE

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Carlos Drummond de Andrade