sábado, 19 de abril de 2008

Arte - "o quê?"

*A imagem é da obra "One and Three Chairs" de Joseph Kosuth, considerado um dos líderes do movimento Arte-Conceitual no EUA. Neste trabalho apresenta uma cadeira propriamente dita, uma fotografia de uma cadeira e uma definição extraída do dicionário sobre o que seja uma cadeira.


Pensar a arte de nosso tempo é sem dúvida tarefa difícil, uma vez que mal sabemos como chegamos aqui. Olhar a história e traçar uma rota até os dias atuais parece coisa complicada quando se faz ruptura com o "antigo", "clássico", não sei bem como chamar, enfim com a história que nos precede. O interessante é que de nada adianta uma ruptura de linguagem e de maneiras de se manifestar se os nosso códigos ainda são e sempre serão os mesmos. Me levo a pensar nisso partindo das discussões sobre "O sem fim do fim da Arte" de Romanno em "A Cegueira e o Saber".
Quando dizemos que a filosofia fagocitou a arte estamos afirmando a arte de nosso tempo. "Neste nosso tempo" talvez seja necessário uma sobrevalorização do conceito, de uma teoria que esteja pronta para justificar o meu resultado (se ele realmente existir), ou para dizer que "esta era a idéia". Tantas pós-explicações devem existir porque admite-se pouca ou total falta de comunicabilidade do discurso. E se for realmente? O discurso é parte da arte-teoria?
Geralmente, o minimalismo exacerbado torna algo simples em algo profundamente hermético. Penso na arte hoje mais do que a chamada Arte-conceitual (que já é um conceito da década de 60), penso numa arte-qualquer ou arte-tudo, onde tudo é arte desde que eu assim queira e se quem olha diz que não o é... ok, o olhar é de quem olha, e a arte é de quem quer. Mas o problema maior é que a pouca ou nenhuma convenção torna difícil saber o que é obra de arte e o que é amadorismo. Contudo, é o artista quem transgride, quem banaliza, quem "hermetiza", então talvez o assunto não seja o que é arte, mas quem é o artista.

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O SOBREVIVENTE

por Carolina Mascarenhas


Um pouco de poesia, para o nosso vazio ficar mais cheio de belo.


O SOBREVIVENTE

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Carlos Drummond de Andrade