Nesta trajetória dentro da cia. do abração busco um lar, um aconchego, um reconhecimento no trabalho árduo de um grupo que se reinventa a cada dia, que junto, enfrenta um leão a cada dia! Parafraseando o Helio: te mete!!!! Por essa companhia que sou eu mesma e tudo em mim, desembaraço os meus preconceitos, amplio o meu espaço, enfrento o mundo, me enfrento, me modifico, luto, me canso, morro e renasço e sigo em frente porque é nesta luta que me torno plena.
A-Corda é mais um passo em direção ao fortalecimento de um grupo em prol de um ideal, e trabalhar na construção de um ideal, dói, machuca, aperta e afrouxa, adoece e cura, alivia e tranqüiliza e, de novo, o caos de onde geralmente brota a essência. Essência que é a matéria prima preciosa que buscamos incessantemente no abração.
Sinto-me profundamente agradecida a tudo e a todos que possibilitaram a minha vivencia diária na carne, neste processo artístico, em especial a Letícia e ao Blas, mas também ao Wal – mestre que tão generosamente pode compartilhar um pouco dos seus segredos!
A-Corda é mais um processo de criação coletiva onde muitos artistas puderam experimentar por um longo período, dando o tempo necessário para que todas as idéias pudessem ser vivenciadas, incorporados, embelezadas, sem a pressão que normalmente ronda os projetos culturais em nosso país. Isso tudo nos deu coragem pra lidar com o risco, tema filosófico e tão real que percorreu toda a nossa pesquisa, das unhas aos dentes! Há alguns anos estamos nos preparando pra realizar uma empreitada desta, que exigiu disciplina, força física e intelectual, amadurecimento, afeto, paciência, respeito e muito jogo de cintura, aliás, só com muito jogo de cintura pra se equilibrar numa corda bamba.
A-Corda propôs a cada um que acompanhou este processo o risco premente, inerente e constante, quando algo estava começando a ficar seguro e estável, a direção tratava de sacudir pra gente novamente recomeçar e enfrentar o risco. Em algumas vezes nós mesmos nos provocávamos a correr mais risco. Um exemplo crasso é a cego inventado pelo Hélio pra correr ainda mais risco ou o Blas com sua insistência em usar apenas os instrumentos por nós fabricados.
A-Corda nos proporcionou o treinamento de várias técnicas artísticas e esportivas, o convívio direto com muitas pessoas, suas idéias e reflexões, ampliando nosso potencial expressivo; o treinamento no experimento, o treinamento da autonomia, a prática de um ritual de sacralização do nosso espaço, do nosso fazer artístico que buscamos, eu e Letícia, desde o começo da cia. do abracão. Nada se faz em um dia ou em um ano! Foram precisos oito anos pra que a gente começasse a enxergar nas pessoas, que hoje conformam o nosso grupo, um pouco de tudo isto.
Termino esta primeira etapa da Corda com a sensação boa da missão amorosamente cumprida e, repito, muito agradecida aos meus amigos, amores e dores de arte pela perseverança compartilhada. E o que é melhor, o projeto subsidiado acabou e nós continuamos nosso sagrado trabalho diário com a esperança renovada de que A-Corda possa se reinventar por longos anos, quem sabe décadas! Vida longa à corda e ao grupo de pesquisas cênicas da Cia. do abração.
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