domingo, 26 de outubro de 2008
Só quero ir embora
Aqui, agora, eu nada mais falo.
Nada mais sinto.
Nada me faz viva.
Só quero ir embora
deixando a memória.
Ser mais bonita na memória.
já não é este o meu mundo.
Aqui, onde me deram os melhores anos da minha vida.
Aqui não é mais lugar para mim.
Aqui, agora, chorei.
Inspirado nos poemas do Roberto Inocente
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O SOBREVIVENTE
por Carolina Mascarenhas
Um pouco de poesia, para o nosso vazio ficar mais cheio de belo.
O SOBREVIVENTE
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema.)
Carlos Drummond de Andrade
Um comentário:
Achei que era o Hélio nessa foto...
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