sábado, 28 de junho de 2008

Sobre o Capitulo V do Foucol

Estava preparando um texto um pouco mais aprofundado mais pela corrida não tive tempo de discorrer mais, mesmo assim coloco aqui o que escrevi na semana passada, só para não passar em branco:
Estar ciente, tomar consciencia de un fato ou mesmo da nossa mísera existência nem sempre é muito confortável, a lucidez, muitas vezes, nos obriga a ter atitude, ainda que seja para reconfortar-nos ou readequar-nos ao sistema de organização que vivemos.
No final da leitura do livro “A verdade e as formas Jurídicas”, de Michel Foucault, apresentando as instituições de poder e as relações de poder, em jogo, nos deixa um pouco mais alertas até para analisar um simples informativo de jornal.
Assim quando vi o outro dia a noticia de que a renitis cresce na população brasileira onde no final o jornalista conclui numericamente quantos dias em media as pessoas deixam de trabalhar. A forma, mais precisa, de medir e relacionar a doença é pelo tempo que deixamos de ser produtivos. Nos, artistas ou sonhadores de um mundo mais lúdico, voltados à busca de um mundo mais brincante estamos fardados à margem.
Como de qualquer maneira ia plagiar decidi citar um trecho bem longo do este último capítulo da nossa leitura.

(...) a essência concreta do homem é o trabalho. Na verdade, essa tese foi enunciada por várias pessoas. Nós a encontramos em Hegel, nos pós-hegelianos, e também em Marx; em todo caso em um certo Marx, no Marx de um certo período, diria Althusser; como eu não me interesso pelos autores mas pelo funcionamen­to dos enunciados, pouco importa quem o disse ou quando foi dito. O que eu gostaria de mostrar é que de fato o trabalho não é absolutamente a essência concreta do homem, ou a existência do homem em sua forma concreta. Para que os homens sejam efetivamente colocados no trabalho, ligados ao trabalho, é preciso uma operação, ou uma série de operações complexas pelas quais os homens se encontram efetivamente, não de uma maneira analítica mas sintética, ligados ao aparelho de produ­ção para o qual trabalham. É preciso a operação ou a síntese operada por um poder político para que a essência do homem possa aparecer como sendo a do trabalho. (...)
E preciso que, ao nível mesmo da existência do homem, uma trama de poder político microscópico, capilar, se tenha estabelecido fixando os homens ao aparelho de produção, fazendo deles agentes da produção, trabalhadores. A ligação do homem ao trabalho é sintética, política; é uma ligação operada pelo poder. Não há sobre-lucro sem sub-poder. Falo de sub-poder pois se trata do poder que descrevi há pouco e não do que é chamado tradicionalmente de poder político; não se trata de um aparelho de Estado, nem da classe no poder; mas do conjunto de pequenos poderes, de pequenas instituições situa­das em um nível mais baixo. O que pretendi fazer foi a análise do sub-poder como condição de possibilidade do sobre-lucro. A última conclusão é que este sub-poder, condição do sobre-lucro, ao se estabelecer, ao passar a funcionar, provocou o nascimento de uma série de saberes — saber do indivíduo, da normalização, saber corretivo — que se multiplicaram nestas instituições de sub-poder fazendo surgir as chamadas ciências do homem e o homem como objeto da ciência.”
A partir de aqui podemos analisar como funcionam nossas escolas, hospitais, presídios, igrejas, faculdades e podemos tentar entender como operam, mais, por cima de tudo, qual sua função, para que servem, ou a quem servem.
A nossa energia vital esta focada para alimentar os sistemas de produção, desenfreados, de produção de lucros, talvez o caos seja demais para ficar lamentando, mas um pouquinho de luz, ou pelo menos manter-nos alertas neste detalhe, para retratar a nossa contemporaneidade pode ser necessário. O será que é pira estrangeira demais tocar neste assuntos?

Nenhum comentário:

O SOBREVIVENTE

por Carolina Mascarenhas


Um pouco de poesia, para o nosso vazio ficar mais cheio de belo.


O SOBREVIVENTE

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Carlos Drummond de Andrade