terça-feira, 1 de julho de 2008

A partir de agora

É verdade, antes era melhor.
Deixa a gente assim fechado,
Janela fechada,
Vida fechada.
Privado, Particular.
Rua, asfalto.
Imagem, as núvens se abrem.
Andar, "sair",
Caminhar na chuva também é bom.
Blog, palavras aprisionadas.
A gente não quer sair de casa,
quer ficar fechado.
Pintar é bom!
Eu vi as nuvens,
no alto tinha um amarelo,
Um raio.
Eu estraguei as florzinhas.
A fantasia, a imagem,
a gente arrumava namorado nos bailes,
Hoje as pessoas se falam seis meses na internet
E na hora de se encontrar, não querem ver.
Provavelmente por vergonha.
As pessoas mentem, omitem.
Todo mundo te conhece,
tem pessoas que preferem a privacidade,
um muro né!


(Texto produzido a partir de uma entrevista com uma vizinha)

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O SOBREVIVENTE

por Carolina Mascarenhas


Um pouco de poesia, para o nosso vazio ficar mais cheio de belo.


O SOBREVIVENTE

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Carlos Drummond de Andrade