sábado, 28 de junho de 2008

Sobre o Espetáculo SORIA

O primeiro impacto ao assistir o espetáculo Soria do grupo paraguaio Hara Teatro, dirigido por Wal Manyas é grande, a sensação é de estar diante de um “ESPETÁCULO”, impressiona pela força ritualística do tema tratado de forma verdadeira, de quem realmente sabe do que esta falando; me refiro principalmente aos atores/dançarinos mais antigos do grupo como a Raquel e o Hilário e é claro ao Wal. Outro fator que impressiona é a precisão na execução dos atores e músicos, a troca de energia é viva e dinâmica, a música alimenta a dança que alimenta a música.

Num ponto não posso deixar de registrar certo desapontamento em relação à expectativa do que eu iria assistir. Quando ouço a explicação do Wal em relação ao seu teatro primigênio e a busca da expressão individual de cada artista através do encontro consigo mesmo, da superação de seus medos e anseios, da negação da família, da pátria e da religião, eu esperava que o espetáculo não se utilizasse de técnicas conhecidas e formatadas como a dança – clássica e moderna e a acrobacia. Eu esperava, em termos de movimentação corporal, assistir a coreografias absolutamente inusitadas, uma movimentação mais orgânica e pessoal, uma para cada ator. Acredito que desta forma, o envolvimento de cada ator com a obra seria maior, abrindo uma via comunicativa com a platéia ainda mais verdadeira, independente do entendimento racional que a palavra pode propor.

O encontro com o grupo Hara foi muito intenso, amoroso e divertido. Valeu muito à pena assistir a todas as apresentações realizadas em Curitiba, e dia após dia, me sentir cada vez mais fazendo parte do ritual mágico proposto no espetáculo. Espero encontrar todo o grupo em breve.

Fabiana Ferreira

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O SOBREVIVENTE

por Carolina Mascarenhas


Um pouco de poesia, para o nosso vazio ficar mais cheio de belo.


O SOBREVIVENTE

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Carlos Drummond de Andrade