domingo, 29 de junho de 2008

SOBRE O ESPETÁCULO SORIA 2

Impacto. É sem dúvida um espetáculo muito impactante, envolvente e visualmente muito bonito. Há muita energia em cena. Me senti muito próximo, quase que sendo chamado para dentro do palco. A história foi ficando mais clara ao longo dos três dias. A “primigenia” presente no resgate cultural da língua, dos elementos, adereços é muito rica e importante para nos mostrar o quanto estamos longe das nossas raízes e o quão necessário é termos consciência e nos aproximarmos dela para ampliar nossa visão de mundo, religião, história e cultura.
A delicadeza e a poesia dos movimentos me encantaram muito. Quando digo poesia, é a que está nos detalhes, como por exemplo, a coreografia com os facões, bela, perigosa e ao fundo o corpo do Felix se retalhando em movimentos de contorção e em seguida a derrota da personagem apresentada.
A sonoplastia ao vivo, trazia mais vivacidade à cena, deixando-a mais evidenciada e até mesmo dando pouco tempo para o público sequer respirar. Muito bom. Acredito que com mais troca entre banda e atores, troca com a cena o espetáculo ganhará muito.
Quanto a iluminação, acredito e percebo que existe uma busca, uma pesquisa por parte do César, de dar sensibilidade à luz do espetáculo.
Sinto-me presenteado com toda essa troca cultural, humana, esse intercâmbio e não posso deixar de vislumbrar mais e mais encontros afim de potencializar nosso TEATRO, nossas VIDAS, nossa ARTE.

Val Salles

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O SOBREVIVENTE

por Carolina Mascarenhas


Um pouco de poesia, para o nosso vazio ficar mais cheio de belo.


O SOBREVIVENTE

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Carlos Drummond de Andrade