O rosto vendado, o corpo tatuado, um espelho na mão...passo a passo, pouco a pouco a busca da semelhança em pessoas que um dia existirão.
Primeiro passo ao desconhecido!
Encontros e desencontros marcados no corpo, o corpo delicado que expositivamente se esconde, esperando que alguém a revele, esperando que tragam de volta seu jeito de sorrir ou qualquer das coisas que ja levaram.
Traço a traço o retrato, retraço de uma princesa, corrigido por um louco.
Um pouco sobre essa personagem
continua...
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O SOBREVIVENTE
por Carolina Mascarenhas
Um pouco de poesia, para o nosso vazio ficar mais cheio de belo.
O SOBREVIVENTE
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema.)
Carlos Drummond de Andrade
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