quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Training pessoal


Hoje pela manhã surgiram alguns questionamentos sobre nossa pesquisa teatral A-corda. O principal mote da discussão foi o "Training pessoal", assim nomeado pelo nosso querido Wal Mayans. Pelo nome já pode-se imaginar do que se trata: um treinamento pessoal de cada ator. Logo no começo de nossa pesquisa física, Wal nos propôs a criação de um training pessoal a partir dos exercícios diários, uma forma de nos aperfeiçoar e manter uma pesquisa individual que nos seguisse ao longo de nossas vidas. Uma espécie de repertório corporal.
Vejo que a prática do meu training pessoal é uma maneira de observar meu desenvolvimento corporal e os desafio na nossa pesquisa. Uma busca pela precisão, força, oposições e consciência do corpo.
Segunda-feira estava eu sozinho na sala de ensaio e comecei a praticar meu training várias vezes, de várias formas, com outros ritmos e intenções. Percebi as diferentes possibilidades de praticar, mas também percebi minhas dificuldades, facilidades e as mudanças que já aconteceram durante esse tempo de pesquisa... é fenomenal perceber que podemos incorporar e se lambuzar com uma técnica.

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O SOBREVIVENTE

por Carolina Mascarenhas


Um pouco de poesia, para o nosso vazio ficar mais cheio de belo.


O SOBREVIVENTE

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Carlos Drummond de Andrade